terça-feira, 29 de maio de 2012

Como Mass Effect 3 irritou seus fãs



Ainda é cedo para saber qual é o melhor game de 2012, mas o título de jogo mais polêmico do ano já tem dono: Mass Effect 3. A conclusão da saga espacial da Bioware seria lançada em 2011, sofreu adiamento e chegou às lojas, em março deste ano, causando alegrias e descontentamentos nas mesmas proporções.
ME é uma grande franquia, e seus personagens estão entre os mais queridos da atual geração de consoles. O problema é que, após investir mais de uma centena de horas jogando os três títulos da franquia, muitos fãs ficaram insatisfeitos como a forma que a história foi conduzida neste último capítulo. As reclamações se devem a vários fatores. Vamos entender os motivos destas queixas.

1. DLCs essenciais
A história de ME3 começa de sopetão. Quem não jogou o DLC Arrival, de Mass Effect 2, vai sentir dificuldades em compreender a situação geopolítica da galáxia no começo do 3. Falando em DLC, outro conteúdo que está nitidamente integrado à campanha (tanto que já vem no disco, embora desabilitato) e revela mais sobre os extintos Protheans só pode ser jogado mediante pagamento adicional.
Aqui, cabe uma crítica ao modelo atual da indústria de jogos: conteúdo por download era para ser opcional, uma forma de adicionar novos elementos ou de estender a história – como a Bethesda fez com o sucesso Fallout 3 ao lançar a expansão Broken Steel, apenas para citar um exemplo do gênero RPG de ação. O problema é que a Bioware, produtora de Mass Effect, tomou um curso oposto, fazendo com que o conteúdo extra se tornasse praticamente obrigatório. Trata-se de uma prática conhecida como “milking” (“ordenha”), muito mal vista pelos fãs, já que faz com que a fabricante lucre em cima da lealdade dos jogadores por determinada franquia.

2. Multiplayer obrigatório
Para conseguir o melhor desempenho possível na última missão, o jogador precisa ter acumulado algumas horas de jogatina online (seja no multiplayer do jogo, seja através de aplicativos para celulares) para aumentar a prontidão da galáxia antes de realizar o assalto final. Porém, nem todo mundo tem acesso a smartphones e boa conexão de Internet, o que exclui parte dos jogadores.
Além disso, Mass Effect sempre foi um jogo para um jogador, e nem todo mundo gostou do modo online – para estas pessoas, o que era para ser uma distração acaba virando obrigação. Fora o fato de que será praticamente impossível conseguir irmãos de armas após a comunidade do game se desmantelar – algo natural, especialmente se considerarmos que existe uma massa de jogadores que migra para outros games após terem finalizado o jogo. Esperar fidelidade a um único título é um erro. O mais correto seria permitir que houvesse recursos suficientes para um jogador solo vencer a guerra sozinho, dando a opção de encarar a última missão após conseguir recursos tanto offline quanto pela Internet.



3. Final vago e pouco variado
O motivo número um das reclamações da comunidade gamer em relação a Mass Effect é o seu final. Muitos fãs se sentiram abandonados justamente na parte em que o jogador deveria ser recompensado, que é após concluir a missão.
Sem estragar a trama para quem ainda pretende jogar, basta dizer que o principal atrativo de todos os games da série Mass Effect são as dezenas de escolhas e os rumos da história após cada decisão do jogador. O problema é que muito pouca coisa muda em todos os finais do game – basicamente a cor da “magia espacial” disparada pelo dispositivo montado pela aliança para combater os invasores Reapers. Com isso, a principal decisão da série, o que vai definir o futuro da galáxia, acaba perdendo peso.
Aliás, o conflito acaba com um gigantesco Deus Ex Machina (literal, ainda por cima), sem mostrar o que aconteceu com toda a tripulação da Normandy. Tudo bem, Mass Effect sempre foi a saga do comandante Shepard, mas seria interessante saber o que aconteceu com cada um dos seus antigos companheiros de batalha.

No final das contas, o último lançamento da franquia acaba sendo semelhante ao encerramento de outro produto igualmente discutido na indústria do entretenimento: a série de TV Lost. Assim como no seriado, o resultado apresentado é estilo “ame ou odeie” – tem gente que vai se satisfazer apenas pela jornada épica, mas é compreensível que muitas pessoas sintam que mereciam mais explicações – tanto que os próprios fãs se encarregaram de criar teorias para explicar o final, preenchendo as lacunas apresentadas nas últimas sequências.

A reação dos fãs
Com a insatisfação, vieram os protestos. Os primeiros foram bem-humorados, como o surgimento de um novo meme (contém spoilers,  mas clique aqui para entender). Depois, jogadores mais exaltados ameaçaram processar a fabricante por propaganda enganosa, alegando que a Bioware havia prometido uma conclusão para a saga, e isto não havia ocorrido. Outro grupo mais moderado se manifestou mandando centenas de bolinhos para a sede da companhia, como forma de pedir por uma zerada melhor.

A solução
Exageros à parte, a reação dos jogadores teve resultados: no dia 5 de abril, a EA  postou uma carta aberta em seu site (clique aqui para ler na íntegra, em inglês) anunciando que o jogo teria uma versão extendida, com cenas adicionais e um epílogo. Segundo Casey Hudson, produtor executivo da série, a expansão levou em consideração o desejo dos jogadores, mas mantendo a integridade da visão artística da equipe que desenvolveu o título.
O problema é que este tipo de iniciativa pode gerar um precedente perigoso: assim como muitos jogos são lançados cheios de bugs, que acabam corrigidos posteriormente por patches, agora testemunhamos algo relativamente inédito: um “patch” de enredo. Notem também que tanto a EA quanto a Bioware não mencionaram valores referentes a esta “versão extendida”, nem qual o seu real conteúdo – seriam mais minutos jogáveis, ou apenas um vídeo final? Por enquanto, as informações sobre esta atualização permanecem semelhantes ao final original de Mass Effect 3 – ainda precisam de mais explicações.

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